sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A gente se encontra na infância.

RECEITA: AMARETTI

“A gente já está junto há mais de seis anos...”

“É, seis anos.”

“E eu não tinha notado essa maquininha no armário da cozinha.”

“Era da minha mãe. Encontrei no porão e, sem pedir, trouxe pra casa. Já que não cozinha como antes, não vai sentir falta. Acho.”

“Minha mãe tem um moedor também. Igualzinho-igualzinho. Nem sei se chamo isso de moedor ou de moinho.”

“Deve estar enfurnado em algum canto da cozinha dela.”

“Tão escondido não está. Ela deve usar em tempo de páscoa, de natal ou no aniversário de alguém da família, sei lá. É para moer amendoim. Gozado.”

“O quê?”

“Nem sei mais pra quê. Não lembro o que minha mãe fazia com a farinha do amendoim. Eu é que tinha que prender o moedor no canto da mesa. Ele exalava um cheiro oleoso de amendoim. Mas se era bolo, se era bolacha... lembro só que me sentia importante na minha função de moedor da hora.”

“Se quiser, deixo que você gire a manivela. Não faço questão do trabalho. Também dei duro ajudando a minha mãe. A gente prendia no parapeito da janela – a tábua da mesa era grossa demais. Fazia um esforço danado para girar a manivela que agora não me parece tão grande quanto antes. Deve ter formado até uns calinhos na minha mão.”

“Deixe ver se ainda estão ali. Eu dou um beijo e já passa. Pronto. Nem precisa casar de novo. Que depois de todo esse tempo ainda tinha coisa que não sabia a seu respeito, eu não contava.”

“Ter ajudado minha mãe a moer amêndoas não é bem um segredo que eu guardava de você...”

“Mas é um detalhe que nos une. Mais um detalhe. Mais tarde vou ligar para minha mãe e perguntar sobre o moedor dela. Toda essa história me deixou curioso.”

“Está vendo a mancha de óleo no socador do moedor? Há décadas que nenhuma amêndoa passa por aqui. Mas o óleo é a prova de que foi muito usado. Vai moer assim mesmo com a pelezinha?”

“Vou. É o que dá cor aos amaretti.”

“Amaretti? Duvido que alguma vez as amêndoas que eu moí tenham virado amaretti. Cozinha internacional a nossa! Lá em casa, amêndoa moída virava cobertura para Bienenstich. Aliás, bem que você podia fazer esse bolo para mim. Você faz? Promete?”

“Só se você descobrir por que o bolo se chama picada de abelha. Eu ligo para sua mãe e peço a receita. Vamos ver qual é mais gostoso então.”

“E daonde essa idéia agora? Amaretti. E justo agora que a máquina de café está quebrada?”

“Vai ter que esperar. É surpresa. A idéia é meio louca. E quer parar de comer as amêndoas, se não não vai dar pra receita.”

“Ai, doeu, viu? Agora você pareceu a minha mãe.”

“Cajuzinho! Lembrei. Desculpa, mas eu também levei alguns tapas de tanto beliscar os docinhos. Era para fazer cajuzinho que eu moía amendoim. Cajuzinho, que saudade. Era coisa que não faltava em nenhuma festa de aniversário lá em casa.”

“Não sabia que cajuzinho era feito de amendoim. Isso é segredo de família?”

“Não, caju sempre foi mais caro. A gente não tinha tanto dinheiro. Minha mãe – essa é boa, preciso contar! –, minha mãe fez um curso de marzipã uma vez. Como os cajuzinhos, ela modelava umas frutinhas, só que com marzipã. Depois tingia com corante alimentício. Um trabalhão.”

“Mas marzipã também não era caro?”

“Era. Só que o da minha mãe era feito de castanha-do-pará com muita, muita essência de amêndoa para disfarçar. Nunca te contei mas faz bem pouco tempo que experimentei marzipã de verdade pela primeira vez. E eu já estava com você.”

“Eu te amo, sabia? Conta mais.”

Amaretti

Adaptado do livro Konditorei Patisserie Bäckerei


Ingredientes para uns 150 biscoitos

· 200 g de açúcar

· 100 g de farinha de amêndoas

· 100 g de pasta de amêndoas ou marzipã em pedacinhos

· 3 claras


Modo de preparar:

1. Em banho-maria misture o açúcar, a farinha e a pasta de amêndoas e duas claras, até que o açúcar se dissolva completamente.

2. Retire do fogo, adicione a clara restante e misture até obter uma massa lisa e brilhante. Deixe esfriar.

3. Pré-aqueça o forno a 170°. Com uma manga de confeitar faça pequenas bolinhas sobre formas cobertas com papel manteiga e seque em forno parcialmente aberto por aproximadamente 20 minutos.

Dicas: Durante o banho-maria, não deixe que a bacia entre em contato com a água, o vapor quente já basta. Use uma colher de pau para manter o forno aberto e gire a forma algumas vezes, assim os amaretti assarão por igual. Amaretti dá para congelar.


2 comentários:

Juliana Vermelho Martins disse...

Estive nessa cozinha, com vocês.
Foi como se estivesse ouvindo vozes, como quando a gente é criança e finge que está dormindo para ouvir a conversa dos adultos. Aquelas das quais a gente não pode participar.

Cajuzinho é meu doce preferido! Nunca foi de castanha de caju pra mim, sempre foi amendoim!

E esses Amaretti... Esse blog vai ser um perigo para minhas medidas...

Juliana Vermelho Martins disse...

As fotos são maravilhosas!